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Carro e computador são bens "raros" entre moradores de favelas

Do UOL, no Rio

06/11/2013 10h00

Uma comparação feita entre os bens dos moradores de favelas e das demais áreas dos municípios brasileiros aponta uma acentuada desigualdade quando levada em conta a posse de carro e de computador. Os dados foram divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quarta-feira (6). O estudo, que examinou a presença de bens duráveis nos dois grupos, foi feito com base no Censo Demográfico de 2010 de 89 cidades.

Enquanto, na comparação, apenas 17,8% das residências localizadas em comunidades carentes contam com pelo menos um automóvel, praticamente metade (48,1%) dos domicílios situados fora delas dispõe de veículo para uso particular, uma diferença de 30,3 pontos percentuais. Já o computador está presente em 27,8% das residências em favelas enquanto 55,6% dos domicílios que não são localizados nestas áreas possuem o bem. O IBGE chama as favelas de aglomerados subnormais.

  • Arte/UOL

Outro item que indica desigualdade entre os dois grupos é a máquina de lavar. A proporção de domicílios com o eletrodoméstico é de 41,4%, em favelas, e de 66,7%, nas demais regiões dos municípios, o que implica numa disparidade de 25,3 pontos percentuais.

Computador com acesso à internet foi outro bem durável que apresentou diferença percentual significativa --20,2%, em comunidades carentes e 48% nas demais regiões--, de 27,8 pontos.

Bens como televisão e geladeira, por outro lado, se mostraram praticamente “universais” em lares situados em ambas as áreas. A comparação da posse de TVs --96,7%, em favelas e 98,2% nas demais regiões--, por exemplo, apresentou uma diferença de somente 1,5 ponto percentual.

No caso dos domicílios com geladeiras, a proporção é de 95,1%, em comunidades carentes, e de 97,9% nas outras áreas das cidades. Neste quesito, são 2,8 pontos percentuais de diferença.

Também semelhante, embora com percentuais mais baixos, é a proporção de domicílios com motocicleta --10,3%, em favelas, e 11,3%, nas demais áreas. De acordo com o IBGE, esta comparação, contrastada com os índices de automóveis particulares, pode ser explicada pelo alto custo dos carros e também pela falta de acessibilidade de veículos maiores em determinadas comunidades devido à geografia do local.

  • Arte UOL

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A pesquisa, chamada “Áreas de Divulgação da Amostra para Aglomerados Subnormais”, se baseia em um questionário específico aplicado em 6.192.332 domicílios, o que representa uma parcela de 5% a 50% da população, variando de acordo com o tamanho da cidade.

Segundo o IBGE, foram levados em consideração apenas os municípios com mais de 400 domicílios em áreas de favelas. Por isso, apesar de haver 323 municípios com aglomerados subnormais no país, apenas 89 foram incluídos na amostra. A margem de erro varia conforme o tamanho da amostra de cada dado pesquisado.

Renda

Em relação aos rendimentos, 31,6% dos moradores de favelas tinham rendimento domiciliar per capita até meio salário mínimo, ao passo que nas demais áreas o percentual era de 13,8%. Por outro lado, apenas 0,9% dos moradores de comunidades carentes tinham rendimento domiciliar per capita de mais de cinco salários mínimos, percentual que era de 11,2% nas demais áreas da cidade.

Distribuição de domicílios em favelas segundo o tipo de via

Rua1.670.618 (51,8%)
Beco/travessa1.279.895 (39,7%)
Escadaria136.805 (4,2%)
Caminho/trilha65.150 (2%)
Passarela/pinguela30.809 (1%)
Sem via de circulação interna28.789 (0,9%)
Rampa12.463 (0,4%)
Total3.224.529
  • Fonte: IBGE, Censo 2010

A informalidade no trabalho também era maior nos aglomerados (27,8% dos trabalhadores não tinham carteira assinada) em relação às outras áreas da cidade (20,5%).

Circulação

Além das questões socioeconômicas que naturalmente já diferenciam o poder de compra dos moradores de domicílios em favelas daqueles que vivem nas demais áreas das cidades, os tipos de via de circulação predominantes nas comunidades carentes também são determinantes para a disparidade na posse de carros verificada entre os dois grupos.

A relação entre a via e a passagem foi constatada pelo LIT (Levantamento de Informações Territoriais), realizado com base no Censo 2010 do IBGE e também divulgado nesta quarta. “A análise do tipo de via de circulação dominante é uma característica intrinsecamente relacionada com os tipos de meios de transporte que podem circular nas vias internas dos aglomerados subnormais”, explica o texto da pesquisa.

Dados do levantamento mostram que a quantidade de residências localizadas em favelas onde predominam ruas com largura suficiente para o tráfego de carros (1.670.618) representa 51,8% do total (3.224.529) no país.

No entanto, as regiões metropolitanas localizadas no Estado de São Paulo e a região metropolitana do Rio de Janeiro concentravam metade dos domicílios com acesso predominante por becos e travessas (660.667 no total). Na cidade de São Paulo, 23% dos domicílios em aglomerados possuem carro particular, enquanto que 57% do restante da cidade se encontra na mesma situação. No Rio, o índice é de 14% para moradores de favelas e 45% para as demais residências do município.

Segundo o LIT, São Paulo e Rio são os Estados com as maiores populações em favelas no Brasil --2.715.067 habitantes e 2.023.744 habitantes, respectivamente. Para o IBGE, esses tipos de caminhos “são vias com menor largura e que muitas vezes comportam circulação apenas de motocicletas, bicicletas ou a pé”.

Também foi verificada a quantidade de lares em comunidades carentes onde a via de circulação dominante é a escadaria (136.805), mais comum em áreas com predomínio de aclive acentuado. Nesse caso, que representa 4,2% do total, a única forma de circular é a caminhada a pé.

Onde predominam as passarelas e pinguelas --ponte improvisada com troncos-- (30.809), comuns em áreas de palafita, a circulação nas vias internas se dá por bicicletas ou a pé. Foram contabilizados ainda domicílios que ficam em localidades onde não há via de circulação interna (28.789), que representam 0,9% do total.